Sou testemunha que estiveste lá.
Era seu o sangue escorrido indecente.
Entre o sangue e o suor
Da testa de um sofredor
Qual deles absolve seu povo?
O sangue que as igrejas exploram?
Ou o suor que nos restou como legado?
Destino de um povo que não o conhece .
Sou eu seu povo!
Eu estive lá, junto ao monte.
Enquanto estavas ungido de santidade
Subindo ao céu piedoso,
Fiquei sentado na pedra,
Abismado de revolta e descrença
Saturado de sua promessa inútil.
Ao lado da cruz, a mãe.
Como todas as enganadas mães,
Solidárias à outras mães,
Com crianças famintas, doentes.
Esposas de maridos sem mulheres
E vice-versa.
Estive como um crente sincero,
Batizado naquele rio,
Esperando a ressurreição!
O abandono da causa
Que você não cumpriu em vida,
Transformou-se em herança
Para a existência das pedras que rolam,
Dos pobres de todas as raças, dos humilhados.
E a pedra em que presenciei;
Na qual estive sentado
Ao lado de desvalidos,
Leprosos e perseguidos,
Continua ali.
Como tudo que nada mudou.
 
Saímos depois do fato
Esperando a ressurreição.
Contemplamos na realidade
A remissão dos imperadores.
Senhor de todas as utopias,
Liberte este povo humilde
Desta crença venérea
Da qual és a salvação.
Crença que o poder aproveita
Para usurpar direitos,
Empurrando pela goela da fome
Uma cruz deteriorada,
Por séculos de promessas,
De falsidade e bajulação.
Liberte seu povo,
Do estigma
De sempre esperar...

O céu agora.
 E o paraíso já.

Humberto Bley Menezes
Enviado por Humberto Bley Menezes em 21/11/2006
Reeditado em 24/11/2006
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