Na carne...
Na carne...
Angélica T. Almstadter
Que espinhos me abraçam a carne?
Que grilhões sem grades me abarcam?
Nos dias sem o intervalo de noites silenciosas,
Sei dos ruídos das flores mal vistas,
Sinto a cangalha que pesa no dorso sem alarme.
Sinto o desfiar das horas que lentas me marcam;
E brinco no contorno das auroras melodiosas.
Tu mensageiro das minhas conquistas,
Que arde em brasas no encalço da invernia,
Chora e risca faíscas sem freios,
Nos trilhos e trilhas enferrujadas.
Gastas as explosões de agonia,
Mais apertam as algemas e os arreios
Dessa doída vazão de enxurradas.
Os olhos vertem só lágrimas salgadas,
Acuadas no fundo dos silêncios tardios,
Onde só moram desejos furtivos;
De uma alma perdida num corpo contorcido.
Pingente do fio da navalha,
Há muito trajando mortalhas remendadas,
Na ânsia de conter o frio dos espaço vazios;
Minh´alma se distanciou dos avisos.
Agora lentamente me abraça a solidão,
Fiel companheira calada.
Ungüento do corpo e da alma ferida,
Mede os passos do meu coração
E nina minha poesia cansada,
Sob o jugo da mão embrutecida