Despojos
Deixo a vida como quem despe uma roupa surrada
Sem remorso...sem receio...
Jogada num canto...desbotada e suada...
Não há mais costuras a fazer...
Nem mãos sensíveis para o cerzimento
O escárnio brinda a nudez
Opera-se então o novo nascimento
Queimo então as poesias e lembranças
Na mortalha carrego a doce criança
Que sempre habitou meu coração
Mato enfim a cruel ingenuidade
A insanidade das horas secas
O meu recreio de ilusão
Dispo-me da vida sem saudade
Levantando o mastro embandeirado
Do branco mais alvo que as nuvens
Reguem meu pranto nos canteiros
Onde as flores que plantei se esparramaram
Mas queimem as lembranças
Todo o material derramado
O fogo só não consome a vida
Que está embutida nas lavras
Não há labaredas para consumir
O meu mar de palavras