Calcinha
Angélica T. Almstadter
E se mais não me convinha,
Entre os teus espaços, sem recato;
Deixei-te uma prova tão minha.
Jogada com desmazelo,
Qual fosse a pressa a culpada.
Não fossem meus modos educados,
E eu desarvorada,
Não teria corado, quando me vi,
De cara com a tal pecinha;
Mostrada ali, com cuidado,
Guardada com tanto desvelo.
Te confesso, que procurei ser discreta,
Ao deixar uma prova concreta.
Com um gesto delicado,
Achei um canto adequado;
Eis que a minha insensatez,
Não fez uma escolha específica;
Só pretendeu ser física,
Alheia e ao acaso, saquei a prenda;
Porém, com zelo, fiz a oferenda.
Arrepios me percorreram tez,
E antes que pensasse em desistir,
Olhei-me no espelho, sem piscar;
Deixei o desejo de me permitir,
Se juntar vontade de arriscar.
Quando me surpreendi, já distante,
Já não dava pra voltar.
Era fato comprovado, o ato delirante.
O calor ia e vinha;
Pensando na tal calcinha,
A embalagem do pecado,
Despretensiosamente ali deixado,
Como se descoberta agora deixasse,
Um pedaço, da minha intimidade,
Com um recado anexado:
Guarda-me com carinho,
Que um dia, eu volto outra vez,
Como fora a vez primeira,
No teu corpo dessa vez,
Eu prometo que me aninho...