A canção
A canção
Angélica T. Almstadter
A canção que invade meus ouvidos,
Acode os meus sentidos,
Tem sons revirados,
Abraça todos os meus pecados,
É a canção da minha vida.
Pousou em minha pele
Atraída pelo som que me fere,
Ferindo nas notas, as minha cordas,
Abrindo todas as portas,
Fazendo bailado nos meus passos,
Nos meus acertos e erros crassos.
Essa canção, todavia;
Embora seja o som de uma cotovia;
Não permanece, não é minha,
Me entontece, me advinha,
E mora longe das minhas paragens,
Tem outras tantas visagens.
Toca a canção, que serena meu coração,
Envaidece minha razão.
Me faz aflita e ao mesmo tempo contrita,
Rasga-me o peito e grita.
Me põe em estado de alerta,
Chega em hora certa,
Me desperta.
Toca a canção singela,
Me faz sua sentinela,
Vigiando teus sustenidos,
Acordando sonhos adormecidos.
Toca na janela do meu calabouço,
Toca que eu ouço,
Ainda que de passagem, como água corrente,
Que busca outra nascente.
Eu bebo distraída,
Atrevida,
A canção temporã, sublimada,
De forma encantada.