Naufragamos na noite branca da ilha

Naufragamos na noite branca da ilha

e o mar balançava a sorrir,

esquecemos de tapar os olhos

para não ver a vida no escuro

e também não tapamos os ouvidos

contra o grito da morte fria.

Na noite branca da ilha naufragamos

e não houve morte,

mas morremos

como se morre a cada dia

no amor

na rua

no cotidiano

longe de onde o mar balança a sorrir.

Agora estamos secos

mas afundamos mais profundo

na secura desses dias de hoje

secura de não amar

secura de não ser

de olhar as coisas vagamente.

Naufragamos ainda sem haver água nos pés

e na testa e no coração,

naufragamos secos,

e o mar balança e sorri

pra não chegarmos tristes ao fundo

quando o socorro não nos ouvir.

Geovane Belo
Enviado por Geovane Belo em 07/12/2006
Código do texto: T312089