Caneta vermelha

Caneta vermelha!

maria da graça almeida

Não transmudem a poesia,

nem violentem os poemas,

o que vale é o que a alma desenha

com os pincéis do alumbramento.

Não dilacerem o dito

no afã do grito alheio.

Deitem o pensamento,

a percepção, os motivos,

de acordo com seus sentimentos.

Não se predisponham

aos óculos, às bengalas.

O dom caminha com boas pernas

e a arte nunca foi cega.

Afastem a caneta vermelha,

o que vale é o rito, a lenda,

o mito da autêntica entrega.

Sigam fiéis a seus versos,

não permitam que terceiros

alterem-lhes os manifestos,

dilatem ou os partam ao meio.

Somente a letra própria

oferece as pistas

de um momento pessoal

e da original intenção

do artista.