Agora é só uma vida

Agora é só uma vida

descendo as escadas

agito minhas perguntas como um trapo branco à guiza de bandeira

permanece sobre a mesa

cinzas, copos vazios e fichas sem valor

O pão está seco e esfarelado como a boca amarga

De álcool e bebida

Sob o espelho rachado a água escorre entre os dedos

Eu percebo

só tem uma vida

uma única e miserável vida

quisera voltar a ouvir a voz da consciência

fraca de inanição

entorpecida em coma etílica

para não deixá-la morrer

abro a janela de sua gaiola

permito que acompanhe pardais e andorinhas

uma aparentemente patética beleza

aparecendo nas fendas do gesto impossível

seu caminho é tortuoso e um tênue brilho

ilumina o céu da lâmpada que se faz de estrela

mas tudo se encaixa

minúsculo no céu

das bocas vazias

...

E a consciência ainda dorme

Com cartas baixas nas mãos