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Escrevo porque m’nhalma chora.

As palavras flutuam,

Procuram caminhos,

Encontram meus dedos,

E deságuam –

Na solidão do papel branco.

Escrevo porque m’nhalma canta.

As palavras se movem,

Acham umas as outras,

Dancam entre meus dedos,

E desfilam –

Na imensidão do papel branco.

Não escrevo pra você.

As palavras me pedem espaço,

Mas dou-lhes silencio.

As vezes, no entanto,

Dou-lhes lápis de cor –

Pra desenhar as lembranças

Que me vem de você em preto-e-branco.

Ai Amélia... Como chegastes ate aqui?

A cafeteira quebrou, ne?

Mas nem tens mais tempo de fazer café... Não tens mesmo.

Tu sais correndo pelas manhas,

Deixas os filhos e pega a ponte,

Cheia de carros e gente

Lutando feito tu.

E ai Amélia? Ganhastes os perdestes?

Eu digo que ganhastes...

Mas teu semblante me amedronta.

Se tu acordaste antes das seis,

Terias tempo de fazer café

E quem sabe assim não sairias nas ruas

Parecendo mãe distante.

Se tu acordastes mais cedo

Farias amizade com teu estomago

E talvez então ele não te queimasse na ponte,

Ida e volta.

Perdestes Amélia?

Teu estomago te condena.

Não te cuidas, não te alimentas,

Com carinho, com amor.

O que fizestes com tua vida?

Já sei, já sei...

Deixastes na mao de outro.

E o outro fugiu com tudo de bom que havia em ti.

Ai Amélia! Reage mulher!

Traz de volta o teu encanto!

Poe um brilho nesse rosto

Uma corzinha e um brinco

Mostra aos outros que es capaz

De fazer muito mais

Que uma xícara de café.

Troquei o café pelo cha.

Em noites de vento me custo a dormir

Os ventos assopram a noite no ar

E empurram o escuro de você em mim.

Uso preto, uso pouco (pouca escolha)

Já não sei se e' tristeza

Ou falta de carinho

Por mim.

A noite se vai e amanhece –

Em mim.

Visto-a quando saio

E quando volto, ela me olha.

O preto e a noite me esperam

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I read poetry.

I swallow tears.

They ask me if I’ve been crying,

I say no, it’s allergies.

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Someone said my life would have been different

Had I chosen a different path.

Oh, please…wouldn’t theirs have been the same?

Who are they to tell me I’ve lost?

So didn’t they?

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Forgive me Elizabeth Bishop:

I can’t write like you.

I can, maybe, translate a little better.

I understand cultures differ.

I understand Drummond is Brazilian,

And you have missed the chance

Of introducing him to America

The way he deserved.

Tutu is Brazilian, you are not.

Just like I am not an American.

The father strength you sought

Is hidden in the Sequoias

But America is big

And you were hiding in the South East.

Yeah, South America was

A great hidden place for you.

You have met Drummond,

Though shortly

(a hand shake is more than I’ll ever get.)

You’ve lost two continents.

I’ve lost two countries.

But you’ve learned that saudade hurts

Much more in Portuguese.

Sorry Drummond,

I can’t write like you either.

Mariela Eninger
Enviado por Mariela Eninger em 02/09/2011
Código do texto: T3197592
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