Cumplicidade

Wilson Correia

Quando estudante,

lutei como lutam os que querem vida plena.

À professora não ficava bem

dizer o que da boca estudantil tinha de sair.

Mas lá ela estava:

um olhar de admiração,

um gesto de que faria igual,

uma pestana de espanto,

um aviso de mancada,

uma pena sorrateira a registrar o sinal.

Ninguém tinha a obrigação de concordar

com ninguém. Tinha, sim, a presença.

Linhas inteiras me eram repassadas

onde quer que nos encontrássemos:

bar,

esquina,

praça,

encontro,

aula

ou assembléia.

Aquilo não era indução, fazimento de cabeça,

muito menos lavagem cerebral.

Era, sim, a cumplicidade,

aquela que começava por olhares vários,

passava por corações ofegantes,

mas sempre terminava na ideologia,

nos valores dos corações que queriam

um mundo de todo mundo igual.

Anos mais tarde eu a encontrei,

com alegria a iluminar sua face

e o riso dos que riem por terem feito história

e não apenas sofrido acontecimentos.

O que ela me disse havia sido escrito

naqueles dias de luta: “Como éramos

irresponsáveis: o que nós queríamos era muito

pouco: o que queríamos era somente

mudar esse mundo torto”.