Maturidade
Morreu na curva do tempo
A menina dos folguedos,
Que morava na cidade de mim.
Hoje ela acordou o sol por um momento,
Vestiu de sonhos seus segredos;
Sentiu-se mulher enfim.
A menina graciosa fechou a janela
E de portas abertas, se achou no mundo.
Viu nús seus desejos desfilarem
Flores vivas em aquarela;
Bailarinas livres entre o junco.
Morreu ingênua a poesia
Sem encanto e sem melodia,
Para nascer a orfandade desajeitada,
Orvalhada de doce saudade.
Os primeiros passos rabiscados
Tem dilúvios de ansiedade,
Curvas de delírios afogados
Em silêncios inexplicados.
Nasce a misteriosa prosa
Sem sorrisos ou modos adestrados
Que solta pavoneia exultante.
Nasce a poesia mulher amante
De veia e essência perigosa,
Para bebericar soletrados
Maduros poemas gestados
No casulo da sua intimidade.