Tristeza do Infinito

    Anda em mim, soturnamente,
     Uma tristeza ociosa
     Sem objetivo, latente,
     Vaga, indecisa, medrosa.
      
     Como ave torva e sem rumo,
     Ondula, vagueia, oscila
     E sobe em nuvens de fumo
     E na minh'alma se asila.
      
     Uma tristeza que eu, mudo,
     Fico nela meditando
     E meditando, por tudo
     E em toda a parte sonhando.
      
     Tristeza de não sei donde,
     De não sei quando nem como...
     Flor mortal, que dentro esconde
     Sementes de um mago pomo.
      
     Dessas tristezas incertas,
     Esparsas, indefinidas...
     Como almas vagas, desertas
     No rumo eterno das vidas.
      
     Tristeza sem causa forte,
     Diversa de outras tristezas,
     Nem da vida nem da morte
     Gerada nas correntezas...
      
     Tristeza de outros espaços,
     De outros céus, de outras esferas,
     De outros límpidos abraços,
     De outras castas primaveras.
      
     Dessas tristezas que vagam
     Com volúpias tão sombrias
     Que as nossas almas alagam
     De estranhas melancolias.
      
     Dessas tristezas sem fundo,
     Sem origens prolongadas,
     Sem saudades deste mundo,
     Sem noites, sem alvoradas.
      
     Que principiam no sonho
     E acabam na Realidade,
     Através do mar tristonho
     Desta absurda Imensidade.
      
     Certa tristeza indizível,
     Abstrata, como se fosse
     A grande alma do Sensível
     Magoada, mística, doce.
      
     Ah! tristeza imponderável,
     Abismo, mistério aflito,
     Torturante, formidável...
     Ah! tristeza do Infinito!

                                      (de “Faróis”)
 

Créditos:
www.biblio.com.br/

www.bibvirt.futuro.usp.br   
www.dominiopublico.gov.br



João da Cruz e Sousa (Brasil)
Enviado por Helena Carolina de Souza em 27/11/2011
Código do texto: T3359920