Seremos um País

Eu sou o seu país, extenso,

Belo e feio, rico e pobre,

Para a corrupção propenso,

Abrigo o rude e o nobre.

Fui descoberto por Cabral

E por um feliz erro de rota,

Procurava as índias, que tal,

Nasci cheio de marmota.

Naquele acontecimento tinha

Até um conhecido parente meu,

Um tal de Pero Vaz de Caminha,

Que nessa confusão se meteu.

Deus me quis belo e altaneiro,

Presenteou-me de riquezas,

Mas não deu um timoneiro,

Deixou para vocês tais proezas.

E depois de tantos anos vividos,

De tantos embates travados,

De tantos caminhos percorridos,

Sinto vocês todos amargurados.

Quanta gente com necessidade,

Quantas crianças sem rumo,

Meu Deus, tanta calamidade,

Sou um pais que perdeu o prumo.

Já vi dor e sofrimento demais,

Tanta fome e muito abandono,

Não estou agüentando mais,

Assuma-me você é meu dono.

Você tem do voto toda a força,

Mude esse meu futuro incerto,

De cada corrupto o pescoço torça,

Mande todos para o mar aberto.

Coloque todos numa grande arca,

Copie o modelo daquela de Noé,

e que venha um dilúvio só na barca,

para não prejudicar esse povo de fé.

Se vocês se unirem de forma decidida,

Serei realmente um grande pais,

Deixarei de ser uma promessa perdida,

Assumirei de novo um belo matiz.

Quero ver essas crianças na escola,

O camponês produzindo alimentos,

Ninguém mais estará pedindo esmola,

Todos receberão seus sustentos.

Lindinha

Fortaleza, 25 de junho de 2005