FUGACIDADE
Os anos
Acabam sempre.
Ainda que tivessem mil dias,
Um dia acabariam:
Esgotam-se,
Acabam-se,
Igual a caixa de remédio,
Com menos um comprimido
A cada dia.
Acordei pensando nisso
E por quê?
Por nada, pra nada,
Puramente por não ter
Outra coisa para pensar?
Ah, os pensamentos...
Outra coisa tão estranha
Quanto o tempo,
Permite-nos tudo,
É só pensar.
Penso que o Tempo não existe,
Mas, que os Anos sim.
A menos que o Sol,
Girando sobre si,
Corresse em linha reta
E nós, numa paralela medonha
Girando sobre si
Até o fim dos nossos dias...
Bem, teríamos dias:
Noites, dias, noites, dias, noites, dias...
Tic-tac, tic-tac, tic-tac...
Hum…
Será que o Tempo existe
Porque existem os dias?
E se não existissem os dias,
A penas uma Terra estática
Olhando para um Sol longínquo
O tempo todo...
Ai, meu Deus,
Eu falei o tempo no meu mundo sem tempo!
Lá não há tempo...
E Deus, haveria?
E se não houvesse Deus...
Bem, é só pensar,
O Pensamento permite-nos tudo.
E o não pensar?
Ai, agora eu pensei...
Que grande ilusão é pensar...
Eu deveria ter ficado um pouco mais na cama,
Sem pensar, quietinho, esperando por um carinho,
Ganhar um abraço quentinho e mais...
Agora, sem pensar.
Ah, que gostoso que é...