DO PASSAR DOS DIAS, DO PASSAR DAS HORAS
DO PASSAR DOS DIAS, DO PASSAR DAS HORAS
Chico Steffanello
Que dia este que não sei se passa
Ou se passou?...
Quente!
Isto sim, muito quente.
Erro a rua.
Erro o bairro: meia volta...
Onde era mesmo?
Esqueci a agenda.
Esqueci a hora,
Marquei hora?
A tarde é chumbo.
É fumaça:
Morre o Sol.
Paro, compro coisas:
Um pão,
Um vinho...
Quero um rumo:
Vejo a porta,
Vejo a rua.
Venta Norte,
Venta forte:
Chove...
Rodam
Rodas:
Carrossel...
Rodo ruas,
Rodo carros:
Lodo.
Bato a porta,
Bato a água
E os pés no chão
Venta Norte,
Venta forte:
Escuridão...
Dia quente
Casa quente
Ar quente
Quero um banho
Quero água
Quero luz
Que dia é esse que não passa:
Sufoca!
Oprime...
Isto sim, oprime!
Tateio,
Tonteio,
Solto a água
Bate fria
Nas têmporas quentes:
Vertigem, rodopio
Vórtice escuro,
Silenciosos
Caminhos etéreos
Passeio entre árvores,
Deito-me para descansar:
Lugar familiar.
Lugar para ficar,
Lugar para te encontrar,
Lugar sereno.
O que dissestes?
Tomo a tua mão e levanto-me...
De onde?
O chão sólido é frio,
Segura o peso do meu rosto,
A luz voltou.
Levanto-me,
Abro todas as janelas
Para a noite molhada
Acendo todas as luzes,
Ligo o ar,
Mantenho o silêncio.
Ouço a rua,
Seus carros poucos,
Seu vento e chuva poucos.
Cubro o corpo
A olhar para os olhos fundos,
Discreta marca no rosto sem sorriso.
Busco gelo,
Descubro o Chiantti gelado de ontem,
Encho a taça comprida até em cima.
O gelo derrete fácil sobre a mágoa vermelha
E o aroma do vinho fecha-me os olhos
Para sorve-lo até o fim.
O sacrilégio refresca o meu peito por dentro
E o sangue retoma o seu fluxo
Pelo corpo sentado, relaxado, estatelado
Busco Vivaldi na ponta do dedo
E seus violinos mágicos
Enchem a casa como o vento...
Deixo-me levar por aqueles caminhos
E pelo afago dos teus dedos nos meus cabelos:
O mar vem à superfície e deságua...
De olhos fechados vejo melhor...
Eu sei, meu amor, eu sei que a vida continua...nua...
Nua...nua...nua...imensa e crua
Sem a presença tua.