UNÍVOCO
Lílian Maial
 
 
 
Uma água, assim, azul,
cristalino bálsamo,
fonte de escoar o pó do breu.
 
Refaz-se em sol a ânsia do verbo
e a fenda na rocha
permite à luz desenhar acalanto.
 
Um bando de pássaros divide penas,
doces gestos de amor.
 
Corre esse rio atravessado no peito,
raios de versos,
cócegas no desencanto,
travessuras no tempo de amparo.
 
Junto às margens da urgência:
relva, mato virgem, verde.
Água e conforto, sustento de rocha.
Emerge o cântico, a cura dos dias.
 
Vem a mãe e doa o colo.
Vem o pai e abraça o justo.
A queda já não dói.
As pernas já não tremem.
 
Dissolve-se o poema no canto do olho.
Hora de deitar nos braços tantos
e ouvir a poesia das mãos estendidas.
 
 
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Não há solidão no mar de encontros.
Não há palavra que defina a gratidão.