O que há por trás do muro?

Caminhando me deparo com um muro e paro

Parece não ter começo nem fim

E é aparentemente intransponível

Mas, o que há depois dessa barreira?

Mais estrada?

Um penhasco?

Uma resposta?

Mais questões?

É só um muro!?!

Não! É um muro de areia...

Como pode?

Areia sobre areia, assim tão firme?

Consigo atravessá-lo com meu punho fechado

Mas não poso transpô-lo

Se eu pudesse, o que seria?

Continuaria caminhando?

Cairia?

Ou tentaria voltar?

Do lado de cá eu danço, me espreguiço, rodopio

Torno a meter minha mão através do muro

E me pergunto:

O que eu realmente quero saber?

Seja o que for

Espantará realmente meus demônios?

Olho novamente pro muro e penso:

Este muro, é uma parede ou uma porta?

Se for porta, como eu abro? Cadê a chave?

O que ou quem estará do outro lado?

O que ou quem é realmente real?

Entenderei se for entendido?

Se me deito e espero, o que terei ao meu lado?

Seja o que for

Estará lá quando eu me levantar e seguir a diante?

À cima vejo um céu escuro

Onde antes sonhavam estrelas

Não sei se é dia ou noite

Não existe mais essa separação

E é esse o nosso pão, água, ar e abrigo

Então, ainda que as portas se abram

Ou que o muro seja apenas meu coração

Não mais me perderei numa luz imaginária

O que eu senti, soube ou fui, agora é passado

Mas o que eu sinto, sei ou sou, assim também será

São páginas e mais pedras a serem reviradas

E tá tudo aqui, deste lado do muro

Mas

Esse muro, é uma porta ou uma parede?

É pra quebrar ou abrir?

E a quem cabe essa tarefa?

Bom! Com ou sem mazelas

Estou aqui agora, não estou?

Do outro lado, quem o que me aguarda?

Se, ou, quando eu passar

Serei seu “quem ou o que”?

Pode ser...

Talvez eu não possa abrir suas portas

Nem quebrar seus muros

Mas com certeza poderei esperar

Até que alguém apareça

A menos, é claro, que tal ou qual escolha um lado

Diferente do meu

Percebo agora que algumas pedras do muro de areia

Começam a cair

Pedras de areia?!

Como pode?! Assim, tão firme?!

Enfim! O muro não é nem tão alto, nem tão largo

Quanto eu o imaginei no início

Uma serpente me envolve

Mas não oferece nenhum perigo

Os perigos deixam de ser tão relevantes

Quando se enxerga o tamanho do muro

E do que ele é feito

É aí que se percebe

Que o que não foi, ainda pode ser

Mas nunca será como poderia ter sido

A serpente ainda me envolve

Mas agora, mil tentáculos tentam me prender

Sabe o que isso significa?

Eu sei!

É hora de partir

Quer saber o que mais eu sei?

Que vivo ou morto, estou certo de que

Alguém ou algo me espera do outro lado

Esse muro é mais do que uma parede ou uma porta

E a minha pior e maior tempestade

As pedras caem como meteoros

O muro torna-se meu livro da vida

E se fecha comigo dentro

O que me barrava, agora me enclausura

E liberta meus corvos

Também tudo o que me queima

Ou me resfria

Mas eu ainda estou deste lado do muro

Vejo-me velho, novo de novo

E torno a envelhecer

Tento me afastar

Meu braço agora é parte do muro

A questão não é o que fizeram

Mas o que “eu” fiz

Não tem volta

O muro sou eu

Portas, olhos, janelas, paredes, corações

Tudo fechado

Mas podem abrir

O muro está mais baixo agora

Um vislumbre do que há do outro lado

Uma luz clareia suavemente

Meus olhos, minha testa e meu ralo cabelo

O presente é tão passado quanto o futuro

Não importam quantas páginas ou pedras sejam reviradas

Não importa o lado do muro, nem sua espessura ou altura

Nem do que é feito

Não importa o segredo da porta

Se é que existe algum segredo

Mas o que importa então?

Onde se mantém o coração?!?!

O muro muda de forma

Definitivamente

Não é mais um muro

Talvez nunca tenha sido

É o meu oposto

Sinto meu braço e meu punho fechado

Atravessar seu coração

E entrego-lhe a chave que encontrei lá dentro

Por que foi lá que eu a escondi

Nunca mais serei o mesmo

Por que entendi

Que meu oposto

É tão culpado quando eu

...