A RONDA DA NOITE DE DJALMA MARANHÃO

Estreladas noites Djalma passava

pel'A República dirigindo um jipão

que parecia um trator O velho jipão

dos tempos da Grande Guerra

subia descia morros

dançava na areia fofa

das ruas que Djalma mandava ladrear

O jipão seguia ziguezagueando

por desalinhadas ruas

ladeadas de casinhas de presépio

Casinhas que a lua alumiava

Ruas que exibiam os mistérios da noite

como uma mulher mostra os encantos

exclusivamente para o amante

Ruas em que Djalma mandava levantar

postes de iluminação

Djalma conhecia as quinas

as curvas das ruas estreitas

Nos becos e botecos

saltava para um trago

Djalma conhecia os moradores

as cantorias os amores

as aventuras dos pescadores

Djalma bêbedo da paisagem

o encantamento das dunas

estendendo o mar

transformado em areia

Djalma bêbedo de saudade de Natal

contava histórias de quando preso

nas masmorras de Getúlio

parecendo previa carregadas nuvens

fechariam o tempo fechariam as casas

Djalma levou consigo

a saudade

para a escuridão

do cárcere

A saudade no exílio

lhe consumiu

o coração

Djalma voltou para Natal

dentro de um caixão

Talis Andrade
Enviado por Talis Andrade em 06/02/2005
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