ELO

frente a frente,

abraçados um ao outro,

refletíamo-nos vistos pelas meninas dos olhos, extasiadas!...

amantes são sempre pares

para dois bem-feitos, dois bem-feitos para o semelhante

ser que em um só convive cheio de opostos

ocultados neste aconchego frontal.

frente a frente,

beijos de suavidade

em arrepios mansos, nossos e impróprios, inseparam-nos!...

Compreendidas e grudadas,

nossas bocas, cada qual mais faminta que a outra,

sem ter pressa de falar qualquer bobagem, calam-se

a cada suspiro descido num degrau da escada

do silencio sucessivo, costela por costela.

Os amantes estão quase todos mortos!...

Enquanto nós, aqui,

entranhados um no outro,

contrariando as leis dos gestos

dos espelhos das meninas destes olhares,

refletimo-nos enxergando um ao outro tão profundamente

que, mesmo cegos, saberemos desatar os nós do rosário:

da eternidade à dor, da alegria ao dia-a-dia, do destino improvisado

ao alcance consciente dos reflexos involuntários dos apaixonados.

Juntos, aqui,

misteriosamente misturados:

somos!

Sobreviventes

desse abraço frontal,

provamos todo amor extinto no fim do túnel do mundo

povoado por inodoros perfumes descartáveis.

Milhares e milhares anos após

os sóis insuportáveis, as chuvas torrenciais e os silêncios tumulares,

o mundo será quase o mesmo se ainda estiver insensível aos abraços frontais.

Fossilizados, estaremos secos entre pedras

ou gravados num tronco de uma árvore,

em iniciais intactas,

qual o dia em que aprendemos a gostar de pipocas.

O desamor foi vencido!

Abraçados,

exalados dos perfumes descartáveis

reconhecemo-nos pelo cheiro

cheio de paixão, cumplicidade e apego,

hibernados após ausência de cio.

O dia renasce nas cidades!

Mas enquanto todos os amores não estiverem sido descobertos,

apesar dos aconchegos descobrirem-se acordados,

questionaremos ao mundo de forma definitiva:

Será que havia amor no abraço dos dinossauros?...