Olhos de Santo
Estou Eu aqui, sentada em uma cadeira velha
De um quarto barato de um qualquer hotel
Cheio de cupins e traças a carcomer o taco
Um alto pé direito de paredes tortas e mofadas
Sou só eu, uma cadeira, uma vela e meu caderno
Da cama apenas fazem parte os lençóis
E um corpo que jaz esfalfado de extrair seu néctar
Eu, uma Afrodite pálida que precipita cristais das vistas,
Iluminados ao fulgor da lua, refletem no rosto do Ares desfalecido
Um cigarro, dançarinas cinzas esvoaçantes flutuam para as estrelas
Ares nu, sobrepujado em sua batalha, corpo másculo, calcanhares...
Minha carne rósea e prata, elmo e escudo, arquétipo líquido, jasmim...
Uma eternidade se passou, dois cigarros a menos no maço
Toda a ambrosia translúcida, leitosa, brilhante,
Deitada na cama que escorre pelas sombras, toda a ânsia que ainda não secou
A Mistura de fluídos que exala da noite
Braços e pernas que se confundiram, pélvis que se afrontaram
Línguas lagartos em dança acasalam-se em circuitos lisérgicos
Beija-flor e Pólem, o Delírio do teu suor que escorrega por meus mamilos
Seus pelos, sua coisa bruta que escorrega pela minha nuca
A cadeira, úmida, meus olhos que viram no afago sabor
Da memória contínua em ondas a me encharcar as pernas
Cigarros, cadeira, caderno, cristais, Lua, estrelas
A fumaça levou num sobressalto de teu sopro o transe sinfônico
Quando os Olhos de Santo, lúdicas esfinges, fontes herméticas de imortalidade
A jogar com meus sentimentos mais profundos,
Me fazendo doer por debaixo das anáguas do cinismo, me arrebata a um sorriso...
É hora de ir para a cama mesmo...