Arbítrio

Entraste pela porta,

agora sais pela janela.

Entraste majestático pela aorta

quando me envenenaste

de histórias de reis, dragões, donzelas

mas a espada nua agora corta

e das veias me sais feito sangria;

Podias teres sido muito mais

qual óleo sobre tela; tu, porém

esbatida aquarela já sem pátina,

desmoldurada, sem textura, vazia,

não passas de figura quixotesca

ou de dantesca criatura – pesadelo

de onde escapo suando cada poro

quando mais te deploro o desmazelo.

Como bálsamo (fingias!) tu vieste;

agora és a peste de que fujo.

Dei-te a aurora da vida, inconteste,

mas fizeste de mim teu jogo sujo.

Entraste pela porta – sim, eu sei!

Mas, agora que te vais feito sabujo

atrás de outra cadela que te baste

escolhe: ou saltas da janela

ou enfrentas a arma que compraste.

Poeteiro
Enviado por Poeteiro em 12/04/2012
Código do texto: T3608392
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.