Maria Maluca

Maria maluca

Maria da Graça Almeida

Maria maluca,

por que não me escuta?

Seu ralo cabelo

perdeu-se no espelho,

espelho que exibe

seus olhos vermelhos.

Os dedos em riste

são trilhas tão tristes...

Maria maluca,

arranha e cutuca,

Maria maluca,

sua unha machuca!

Não fuja da luta,

salte do leito,

ainda que cedo,

com fé e efeito,

a vida põe medo

e não faz segredos.

A morte é injusta

e tira o sossego.

Maria maluca,

cuidado, mulher,

mingau não é fruta,

use a colher!

Sua vista está curta,

a cabeça espana,

de farda ou à paisana,

a lida é insana!

Largue agora

o copo de cana,

dê-lhe uma folga,

volte pra cama!

Maria maluca,

seus velhos ouvidos

fecharam-se à escuta

perderam o juízo...

com a força bruta.

Mas isso agora,

tampouco importa...

De dentro pra fora,

Maria, está morta!