JANELAS

Amarelas e cores,

Borboletas e flores,

Ventos ligeiros,

Cigarras...

Pula, Tiziu, bate as asas e pousa...

Repete o gesto e o seu nome

No galho seco

Que a geada matou.

De raízes secas é o seu ninho,

Três ovinhos:

Chiado de passarinhos

Para os meus ouvidos de menino saber

Que a Primavera já vai alta

E o Sol caminha para o meio do céu.

Logo o canto das cigarras

Será lento como o mormaço,

Denso como as sombras ao meio dia,

Triste como as folhas amuadas pelo calor e

A minha espera compulsória à janela,

Enquanto a mãe descansa com um ouvido em mim,

Por causa do Sol a pino: verão.

Bendita a sombra da Castanheira

E as estradinhas de terra

Que me levam para trás dos horizontes,

Alguns dos quais só estou voltando agora...

Malditas as horas

Que se demoraram em contar-me o segredo do Tempo,

Horas quentes que não me levavam pro ar...

Mormaço: embromação de verão,

Gaiola de passarinho

Com passarinho dentro,

Chuva que se demora,

Açude que quase seca,

Vento que venta seco.

O meu coração de tocaia

A espera da viração.

Outono canto das chuvas

E dos ventos que derrubam folhas

Amadurecem sementes

Adormecem as seivas e

Sopram as andorinhas para o Norte...

Uvas que viraram vinhos,

Cana doce que virou mel.

Noites claras, transparentes

E céus azuis nos dias de maio:

Brisas, campos de ouro,

Bandos de rolinhas

Que se aquecem ao Sol.

Primas geadas pintando em Pastel

As extensões nuas dos campos frios...

O sol que desce no céu

E vai lá pra perto do horizonte chamar o inverno:

Meu mago das estrelas de cristal,

Das lareiras,

Do sangue das uvas em taças,

Do calor aconchegante do corpo dela...

Vento frio cortante,

Umidade que não passa

E perpassa pelas botas pesadas...

Pro menino, as noites que chegavam cedo,

As sopas quentes, cobertores de lã,

O temerário banho,

As inesquecíveis visões

Dos campos brancos de gelo

E do bafio fumarento aquecendo mãos...

Coração em compasso de espera

Olhos no horizonte,

Na linha do sol que se levanta

Para nova primavera.

E agora?

Me contam do pior:

Que serão diferentes as primaveras

Que os meus filhos verão...

Que os seus verões serão violentos

E os invernos incertos

E as primaveras, loucas

Porque perderam seus amores,

Os outonos, seus namorados sazonais...

Que coisa insana!

Quais foram os homens que dominaram tudo,

Menos a sua inteligência,

E se lançaram sobre a Terra,

Queimando o seu óleo

E saqueando povos

Para cobrarem usura?

São desses que ainda vejo

Passando pela minha janela compulsória,

Falando em economia...

Chico Steffanello
Enviado por Chico Steffanello em 17/02/2007
Código do texto: T384055
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