Ressurreição
Em trevas escuras
Perdido está o mundo
As pessoas tornaram-se duras
E cavaram suas covas sem fundo.
A presa foi o predador
A luz fez parte da escuridão
A vítima foi o amor
O assassino foi o próprio coração.
Tudo ficou só na saudade
O que era alegre tornou-se triste
O pesadelo apocalíptico tornou-se realidade
E o sonho não mais existe.
Há de se chegar um dia
Que se perguntará por toda a natureza
Pela arte e pela poesia
Mas tudo será tristeza.
A humanidade perdeu a guerra
Que contra ela mesma travou
A bondade foi embora da Terra
E ao alheamento se entregou.
E no olhar de cada ser
O que se vê é sofrimento
E a dor é tão grande que mata sem doer
Acabando com o sentimento.
Perguntar-se-á pelas flores
Plantas e todos os animais
As respostas não terão cores
Pois nada disso existirá mais.
Procurar-se-á por todo canto
Algo que foi deixado para trás
Mas a procura perdeu o encanto
E não se achará a paz.
A dor então será tamanha
Que não haverá como suportar
É isso que se ganha
Ao esquecer que a vida é perder e ganhar.
O pranto será eterno e agonizante
Mas se perderá no lodo
E a dor delirante
Sangrará o mundo todo.
Então nada mais poderá ser feito
O mundo será um escuro e esquecido jardim
Viver será ter amargura no peito
E terá chegado o fim.
Mas eis que não morreu a esperança
E do nada surge um ser maravilhoso
Que como em um sonho de criança
Monta um cavalo majestoso.
Um ser que pode reconstruir
Das cinzas a que a humanidade foi reduzida
Tudo que um dia ela pôde sentir
Para cicatrizar tal e tenebrosa ferida.
Este ser traz consigo a luz
E seu cavalo chama-se Coragem
E junto com ele conduz
O mundo a uma nova paisagem.
Este ser surgiu das entranhas terrenas
Como um gigante colossal
E tem o poder de em frases serenas
Mexer fundo na máquina emocional.
Este ser tão belo é o poeta
Que para o fim da agonia
Traz consigo o poder de um profeta
E ilumina as trevas com sua poesia.
Cícero – 22-12-94