(Ir)real

Sim, perco a palavra justa

Meu coração alarga-se quando

O sol dá uma de meio-dia

E tudo que mantenho em segredo

A minha prece silenciosa e tão a ermo

É o doce balançar das horas

fugindo dos meus desejos

Onde sou sombra derrotada pela claridade

de um comboio triste em retirada

Margem de estrada empoeirada

que me faz pausadamente leviana

Em cortejo

em marasmo

em saudade

em vida eirada

Falta-me tudo

Preencho-me de nada

Perco a linha seguinte

Fui quase

do tamanho da minha luta

Onde cal, útero, larva

se misturam

Sem alívio, sem pudor,

Estou a sós com meu medo

Agiganto-me

Nesta terra do nunca

Cubro meu amor de mundo

Remeto-me ao pequeno sonho

De inventar o meu escuro único

Vestida de pó translúcido

Anfiguri e avulsa

A vida surta

Meu coração nunca em definitivo

O símbolo desaprendido

O objeto destituído

Pela via do desejo

Devolvo-me à pedra bruta

Vejo-me

porosa e resoluta

Só hoje

O Real chegou mais cedo

Izabella Gamellas
Enviado por Izabella Gamellas em 29/07/2005
Reeditado em 29/07/2005
Código do texto: T38576