CALOR PATERNO

Eu queria

Eu só queria ter um pai

Para comigo brincar, e

Caçoar da precoce masculinidade refletida no espelho:

Quando estivesse a me barbear.

Eu queria

Queria que ele me pusesse no castigo

Que me cortasse mesada

Que ralhasse comigo

Por ficar acordado até altas horas da madrugada.

Eu queria

Eu só queria ter um pai

Grande ou pequeno

Feio ou bonito...

Alguém a quem chamar de pai.

Bem sei, que muitos assim não pensam

Que não comungam o valor de tal relação;

Da amizade e do trilhar o mesmo caminho

Da falsa liberdade no cárcere paterno

Do nó umbilical que supera a emancipação.

Mas eu não estou nem aí!

Daria tudo para merecer esse castigo

Ter ao meu encalço alguém imprevisível

Que fosse meu herói, meu amigo...

Alguém a quem chamar de pai.

Antonio Virgilio Andrade
Enviado por Antonio Virgilio Andrade em 29/07/2005
Código do texto: T38728