A pequena história das cigarras desoladas e outros carnavais

Queria ficar sentado na calçada olhando os elefantes celestiais

Mas tenho uma conta para pagar, a senha para registrar e o cartão para bater

Ficar debruçado diante de Borges ou Eça

Mas temos os tomates para colher, as carnes para cortar e o genro no corredor

Estou perdido entre algumas senhas, mas poderia está contido num Bilac

Olhávamos o carnaval, eu e a colombina.

Antes da janta tem a Ave Maria e antes do fim tem Van Gogh

Cigarras desoladas sentam-se na mesa aguardam o pão

Havia uma mangueira florida, um garoto de peito aberto e um gato

Temos também o ônibus, o relógio e o consumo

As cigarras desoladas jantaram e assistimos o telejornal

Joyce bebia cerveja e Lispector camomila

Não sabia que era assim.

Todo dia trinta era assim, essa fila, essa agonia

Essas cigarras e aqueles carnavais

Sentado sob a pitangueira não sabíamos o que era relógio

Aquela mecânica sem freio parecia uma roda gigante

Mas era o porta voz do tempo, era um carrasco

Poderia ser a chuva, a brisa, mas era o tempo.

Deijair Miranda
Enviado por Deijair Miranda em 24/10/2012
Código do texto: T3949844
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