DORES

As quis compreender,

Ais de toda a natureza.

Gemidos de corpos

No escuro dos ambulatórios,

No silêncio branco das U.T.Is.,

No silêncio vazio dos abandonados,

No silêncio frio da solidão.

Dores são dores,

Da carne aos ossos

Dos ossos à dor sem lugar:

As dores da alma.

Lutas dos que lutam

Contra a morte que a dor traz

Ao corpo doente, dilacerado, mutilado

Pela tentativa de sanar o mal

Que drena a vida

A dor de quem não compreende a doença

Que se instala na sombra da corda bamba

Aonde se embala a vida de olhos vendados

A dor que não compreendemos

É a dor dos outros:

Por que dói mais a tua dor que a minha?

Por que pensas que dói menos

A dor dos que não estão mutilados?

O que fez o meu saudável amigo

Dar fim a sua vida se não

Uma dor sem lugar?

Só por que eu não vi cicatrizes

Ou partes amputadas

Era ele menos mutilado

Que os que arrancaram partes de si

Para extraírem um mal localizado?

Eu não meço mais as tuas dores

Porque tu não sabes medir a minha.

O que sabes tu sobre o mal

Que encarcera a minha alma

E a dilacera na mais escura prisão?

Eu não tenho feridas expostas

Mesmo assim grito no silêncio frio,

Num escuro que ninguém vê,

Mesmo à luz do dia,

Ainda que eu segure a tua mão

E beije a tua boca todo o dia

E me deixo beijar...

Aprendi que não posso medir a tua dor:

Qualquer medida é injusta,

A medida da tua dor

É sempre maior que a minha.

Estou saindo sem compreender o mister

Da tua dor.

O que fazer se tudo o que aprendi

Foi deixar os meus ouvidos abertos

Te pedindo:

- Me conta a tua dor,

Eu ainda quero compreende-la:

Toma a minha mão trêmula de dor

Por ter tão pouco de remédio para te dar

E me fala.

É só.

É tudo.

É parte da minha dor não saber...

Chico Steffanello
Enviado por Chico Steffanello em 02/03/2007
Código do texto: T399249
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