Quem paga o mico?

Em cosérnico fio balança
Contemplando seu campus natal
Um mico-estrela que jaz na dança
Do passeio elétrico fatal.

Seu olhar esgazeado mira
O encastelar de uma catedral
O sardônico riso admira
O saber tornando-se um curral.

Cerquem toda a rica cultura
Mas não esqueçam os animais!
Dêem-lhes uma passagem segura
Nas emaranhadas teias mortais
E o mico da triste figura
Trêmula flâmula? Nunca, jamais!



No acesso à UFRN há um mico-estrela morto. Eletrocutado ao utilizar um fio elétrico da Cosern como um cipó-atalho para seus sítios de alimentação. Está preso ao fio por uma só mão em cadavérico espasmo final. Seu corpo já desidratado pelo vento tremula como uma bandeira de revolta e agonia. São os animais que estão invadindo os espaços públicos ou nós que invadimos os espaços deles? A convivência entre os homens e o animais é possível desde que saibamos oferecer um substitutivo seguro para as árvores que arrancamos das trilhas deles. Quando o fotografei,  observei que ,à sua frente,  homens construíam uma cerca para isolar o campus dos salteadores. Sei que é por uma questão de segurança, mas não deixa de ser simbólica a comparação. A imagem para mim soou forte e, entristecido, fiz esses versos.
Edmar Claudio
Enviado por Edmar Claudio em 03/03/2007
Reeditado em 03/03/2007
Código do texto: T399575
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