O dia em que o homem chorou
O homem subiu ao alto
Da mais alta montanha da Terra
Sentou-se no gelo eterno
E lá de cima
Começou a relembrar sua existência;
Recebera tudo o que queria
E, no entanto,
Sua ganância é insaciável.
Aprendeu a mexer com a terra
Deixando de lado só a carne como alimento
Não caçava apenas
Agora ele também plantava;
E com todas as riquezas que a terra lhe deu
Avançou a um lugar
Desconhecido; mas não queria parar.
Aprofundou-se nos segredos da mente
E também da natureza
E aprofundou-se demais
Porém não descobriu nada;
Pois não achou a chave do maior dos segredos:
O amor pelo próprio ser humano,
E pela vida
E como um idiota movido pelo ódio
Destruiu-se a si mesmo.
Lá em cima deste monte
O homem chorou;
Chorou sua burrice, sua ignorância
Chorou sua inexperiência
E sua falta de persistência.
Enfim, acabou-se a encenação,
Pois se derreteu o gelo eterno,
Caiu montanha abaixo
Para ele não houve salvação;
Porque nesta queda
Findou-se a civilização
Vítima de sua própria criação.
Cícero – 25-09-91