O menino de sua mãe

( é uma homenagem a todos os soldados portugueses e angolanos que morreram na guerra colonial ,sem sentido e fratricida, e às mães, que não dispararm balas, mas derramaram lágrimas de dor suficientes para aumentar as águas do mar que os separavam)

A mãe do soldado

Morreu com a bala que na mata de Angola lhe matou o filho.

Foi numa tarde quente

numa picada

uma emboscada.

Tiros a esmo

a boca das armas…

Arautos da morte

gatilhos no dedo…

O disparar por disparar

apenas por medo

O suor perlava o rosto

a voz do capitão bradava

para ninguém abandonar o posto

E no calor de um dia bonito

soou nos trópicos um grito

e no continente

um frio gélido percorreu na mãe o corpo franzino

e o fez explodir num gemido

de dor indescritível

“ Ó Toino, ó Toino!”

Chamou ela angustiada

mas o Toino não respondeu à chamada

e o eco devolveu-lhe a fala

e lhe revelou

que num trilho

de uma terra distante

quis o destino traçar

a morte do seu filho

Em vigília

e de luto cerrado

aguarda que lhe devolvam o corpo

para repousar no jazigo de família.

Vãs são as esperanças

de quem parte para a guerra

Nesta contenda

perdidos andam todos

da sua condição

Perdidas andam as balas

até acertarem em quem

um dia fora o menino de sua mãe.

Antaco
Enviado por Antaco em 12/02/2013
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