Ciranda em passarela

Neste canto de ciranda

roda a vida a desfilar.

Passam ventos na varanda,

passam rimas devagar.

Passam sons de passarinho,

murmúrios da beira-mar.

Passa a fonte em borburinho,

passa a vela a tremular.

A ciranda gira a roda,

a rosa vai desfolhar.

A tristeza se acomoda,

o riso vai disparar.

Passam nuvens lá no alto,

levam sonhos para o além.

Enquanto dorme o asfalto

eu me vou e você vem.

Passa o boi passa a boiada

num caminho de ninguém.

Passa a lama escancarada

num grito que não convém.

Passa o cego, passa o mudo

e o surdo que é mais feliz.

Também passa o abelhudo

que da vida é aprendiz.

Desfilam palavras tolas,

roucas, ocas, poucas, mil...

Passam seringas e ampolas

nos escuros de um covil.

Mas passa a fé e a esperança,

passa o amor e a lealdade.

Passa o riso de criança

num lampejo de bondade.

Passa a rosa desfolhada

sorrindo neste jardim.

Em lágrimas traz o verde

descolorindo o carmim.

Eu passo também cantando

fazendo o que sempre faço.

Na pena o verbo chorando,

no peito a flor de um abraço.

SP, 31/07/2005

16:30 horas

Cleide Canton
Enviado por Cleide Canton em 09/08/2005
Código do texto: T41433