COTIDIANO DOMINADO

Um assalto...

uma bala perdida...

uma guerra urbana...

Tiros trocados à esmo

ecoam sem ter direção

ensurdecedores...

Maquiavélicos estrondos

que queimam deixando rastros

pessoas mortas no chão.

São corpos mutilados

presos, engaiolados

num redemoinho sem fim.

Vidas inocentes que se apagam

expostas, caídas por terra

cobertas por saco plástico preto

como se fossem um lixo

sem direito a vela acesa

num velório encomendado.

Só uma mancha de sangue seca,

espalhada como um espelho

no meio do asfalto quente

marca com fervor a violência

que devasta, que assola

enfeitando minha cidade.

E o Cristo de braços abertos

chora lágrimas de sangue

por tristeza do abandono

em que o Rio de Janeiro

tão bela e faceira cidade

dominada pelo tráfico

num grande caos transmutou.

Neli Neto

16.03.2007

21:54hs - RJ