Interlocução própria

Enquanto folheava as páginas de minhas lembranças

bebia vinho, um tinto e bem seco copo de desalinho

embora nervoso, contive os braços e não lhe abracei

suave veneno, a garganta agradece e a língua aplaude

enquanto deságua o sabor na sua boca, que diverte o gosto

na ponta dos dedos um ciclone, em formato digital

enquanto diverte teus lábios confusos, derrama o esmalte bordô

esconde o cheiro, esconde o valor, que vibre os olhos do interlocutor

a navalha delicada acomodada no copo fino do criado mudo

a tesoura ocupa um canto sem tirar a atenção do escuro

a vitrola ultrapassada presente simplesmente nos traz

os sons atrevidos e distintos do singelo violino,

troquei meu casaco, por um sobretudo melhor

comprei um chapéu, charuto, guarda chuva e uma maçã

troquei dois cigarros por um gole de cachaça de hortelã

vi meu amigo me sorrir de costas, e desandar sobre a avenida

quando eu trabalhava, sem saber por que algum motivo deveria de ter,

montanhas maiores que monte Everest, escondidas na ocasião

que vinham do oeste e foram do leste, mandando lembranças e semblantes tristes

queimaram o desamor agrário, reformulado, primordial e secundário,

um dolorido quitute praqueles que sofreram de maneira diferente, feito beija-flor mutilado,

escurecido, como mato queimado, solitário como um coco abandonado,

decepcionado, como lápis sem cera, como criança inocente

com gosto doce sem o amargo de um chocolate derretido

na desilusão de um violão sem trato, na insatisfação de um compositor sem copo...

rdeorristt
Enviado por rdeorristt em 01/05/2013
Código do texto: T4268139
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.