A CAUSA DAS COISAS

Despedi-me das causas

As coisas nem sempre são o que parecem

Nem as nítidas imagens

Nos transmitem tudo

Tantos são os filtros que consomem...

As coisas...

As palavras...

Parecem às vezes, moucas,

Outras vezes, loucas...

Saltitam de boca em boca

Como se a fome pudesse

Escrever-se nas entrelinhas

Como se não existisse

Como se o ventre as parisse

Já cansadas, tristes, roucas...

Às vezes são muito poucas

As razões porque as usamos.

Outras vezes, mais traquinas,

Saltam como bailarinas

Nos palcos que a vida tece

E quase tudo acontece

... causam-se as coisas...

... coisam-se as causas...

E entre muitas pausas,

Parêntesis e risos

Há silêncios consentidos

E sentidos em silêncio

Despeço-me das coisas...

Esqueço-me das causas

Verto as águas que não quero

Escrevo as mágoas que não espero

E em desespero...

De causa... de tema... de poema...

Termino aqui o teorema...

... por causa das coisas...

ressoa

99/11/09

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ressoa
Enviado por ressoa em 17/08/2005
Código do texto: T43165