Prisioneiro... Nem tanto

www.nardeliofernandesluz.com

(Poema publicado na antologia internacional "Margens do Atlântico", pela Ed. Abrali)

É verdade! É verdade!... Maior liberdade não podia haver

Quando ele perambulava, de lugar a outro, embalado no prazer.

... nômade, livre, um artista, um nobre vagabundo,

Sorria, bebia, cantava e vivia alheio às mazelas do mundo.

Todavia, era cego para os valores que a vida tinha, então,

Não dava valor à família, que tanto clamava por sua presença e atenção;

Não dava valor ao amor, que encontrou, mas que deixou partir, sem luta,

Pois no seu egoísmo de viver livre,

Não permitia ser aprisionado, nem mesmo pela amada absoluta.

Optou erroneamente pela solidão acompanhada de tormentos...

Sem amor verdadeiro, contudo, com várias mulheres para desfrutar seus momentos.

Só preocupava viver seus instantes... sim, só isso importava,

Sorrindo, bebendo, cantando, tudo artificialmente... sim, lá ele estava.

Gozava o regozijo da “paz”, então, de repente o baque, a ignóbil paralisia:

O retorno ao inferno, à desesperança; à indizível dor na alma, umbrosa e fria.

Mas fora o momento de portentosa angustia e perda que o fez encontrar um norte,

E ver que tinha uma mãe resmungona e impaciente, mas sempre presente e inegavelmente forte...

Viu que tinha um pai companheiro, nas horas boas e nas tristonhas...

Um adulto nas horas sérias, nas de alegria uma criança...

Viu irmãos, que por vários instantes permaneceram de plantão,

Na sombra da angustia de uma esperança...

Reconheceu amigos, que realmente se preocupavam...

Viu nos pequenos gestos, um grande carinho que o embalava...

Viu nas manchas do teto, momentos de entretenimento...

Viu nas nuvens, as criaturas do Criador e na própria mente, discernimento...

Viu no cantar dos pássaros, a harmonia maravilhosa da natureza...

Viu no olhar de um ser, a presença de Deus, difundindo amor e beleza...

Viu na brisa, a paz...

Encontrou na luta a coragem sagaz.

E começou nesse momento de dor, de imobilidade, de angústia e incerteza,

A nascer outro ser... de valores mais profundos... mais sinceros... de intensa gentileza...

Um ser que preocupa com o outro... e encontra nisso contentamento...

Um ser que aprendeu a dividir o seu tempo, seu carinho, seu pensamento...

Um ser que aprendeu a navegar e viajar,

Indo a lugares nunca antes idos, sem sequer sair do lugar.

Perdeu aquela “liberdade”... mas ganhou um valor interior mais profundo...

Sabendo hoje que a vida é indubitavelmente muito mais do que:

Sorrisos, bebidas, cantorias e viver momentos...

Alheio às mazelas do mundo.

(Interpretação e reformulação do poema “Prisioneiro” de Nardélio por sua prima e amiga Kátia R. L. Carvalho)

Nardélio Luz
Enviado por Nardélio Luz em 18/08/2005
Reeditado em 29/11/2007
Código do texto: T43460
Copyright © 2005. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.