Encontro com o Féretro

Toma tua pá!

E caves o teu calvário.

Enterras o teu egoísmo,

Teu desrespeito, tua covardia;

Tua ignorância, teu cinismo;

Teu preconceito, tua intolerância;

Tua indignidade, tua prepotência

Tua imoralidade, tua indiferença;

Tua infidelidade, tua ganância;

Tua mesquinhez, teu egocentrismo;

Tua ingratidão, tua falsidade;

Tua vaidade, tua inveja;

Tua desesperança, tua escravidão...

Enterras a tua ilusão,

Tua impotencialidade, tua angústia;

Tua languidez, teu menosprezo;

Tua jactância, tua estupidez;

Tua frivolidade, tua melancolia;

Teu perjúrio, tua rapacidade;

Tua consternação, tua hipocrisia;

Tua frustração, tua descrença;

Teus grilhões, teus dissabores;

Tua vileza, teu ódio...

Joga-te na cova!

Enterras tua solidão.

E jazes na paz do ventre dos vermes!

Porém...

Tomas tua caneta!

Escrevas tua poesia,

Não te preocupes em assinar o teu óbito.

Sê amas?!

Aproveite as palavras e vocifere o teu amor.

Sê choras?!

Compartilhe tuas lágrimas mesmo se for com as pedras.

Sê ris?!

Cante na chuva e agradeça pelo temporal.

Sê sonhas?!

Não tenhas medo!

Saibas que não há pá capaz de enterrar um sonho!!