Soneto da minha cabeça

Dez mil pensamentos concomitantes:

a lua, dois versos e reinos distantes.

Duas mil formas cruas, cem mil homens,

ideias e fatos e outros nomes.

Eis meu cérebro, se me vês etéreo.

O ar longínquo — sede, fome e riso

sentem o corpo. Eu, no paraíso

da mente. Por isso me vês tão sério.

Pois quando lamacenta a vida irrompe,

chamo ventos, acendo chamas, águas

retidas, diques terrenos se rompem.

Clamando o antepassado, invento farsas

e faço curvas onde estão as mágoas.

Em vez de hemorragia, sangro palavras.