Às flores raras e banalíssimas
Um sorriso doce, um cobertor quentinho, o conforto úmido.
Há sempre alguma coisa faltante, humana, em teu corpo
gigante de sensações; e em tuas estruturas de artista,
falta um abraço, um acalanto, um verso. Um nexo.
E perdes. Perdeste a infância e as instâncias seguras
que por poucos anos te iludiram. Perdeste o divino.
Mas ganhaste outras, ora direis, e miraste no outro
o que não tens. Até o perder, de novo, feito rei.
Mas o que fazer quando o outro, o louco, o solto,
que também és tu, aquele sem corpo e sem rosto,
aquele que move as engrenagens do tempo,
um dia — sem aviso nem consentimento —
traz-te o estranho sentimento de plenitude?
O que fazer da magnitude?
Melosas miragens, melodiosas melancolias
— o todo se avizinha —
e tu adivinhas flores raras e banalíssimas.