A CRIAÇÃO
Não se existe, a princípio.
Cores, dor, um cão que latiu
dentro da madrugada escura
não passam de idéias incutidas
no espírito humano. Há, sim, a alma
inquieta, entre todas, entre tantas
outras
que se tocam, e se ferem, e se beijam
e habitam a geometria dos espaços
daquilo que se convencionou denominar
: mundo
A existência em si mesma
é tarefa para poucos, raros.
O homem se lapida quando
na faina diária dos seus dias
doa de si ao próximo, e mais e sempre
até essa tarefa atingir um grau máximo
de exasperação
a ponto de não mais se refletir
sua face nos espelhos.
É quando liquefazem-se os sentidos
em diamantes de orvalho
forjados, um a um
na doce e mortal carne.
No seio estéril de uma pedra
o homem nesse instante habita
e o que antes era mineral e inerte
agora pressente o fluir e o pulsar
de sangue morno
e coração.
* * *
Goiânia, 09 maio 2007.