(Dú)vida

O que sei eu da vida, para que alguém me siga?

Eu, que tanto quis e nunca pude

Escrever um poema com saúde,

De estrutura cervical perfeita?

Se me faltam os músculos

Para me lançar nessa empresa,

O que posso eu, senão inventar

O ar que nutra meus sustos!

Eu, que quis tanto apreender

o vento

Até aprender que ele não existe

Sem movimento

E se posso

inventar

o vento

que me leva

Inventarei também corrente

que me guie,

no oceano – inconsciente –

Até o mar,

a margem,

a praia

evitando me afogar nessa malha

tecida por músculos frouxos e flácidos

mas tão sábios e fixos o suficiente

pra inventar a vida e os ritos que a gente

segue, ainda que falhem!