O MAIS COVARDE

De todos os amores,

o melhor é aquele que

é possibilidade e promessa.

É aquele que nunca chega

porque não tem pressa,

e continua parado, olhando

enquanto

as chuvas de outubro suspiram

perto dos dias santos.

De todos os amores,

o melhor é o que nunca

me escolheu.

Virou as costas para mim

e para o vento

e todo dia ruma em direção

ao esquecimento e aos braços

de um alguém que não me quer

nem mau nem bem.

O melhor de todos o amores,

foi aquele que

nunca me mandou flores,

que nunca disse nada além

do que eu podia ouvir

e que fugiu antes mesmo

de eu deixá-lo fugir.

O melhor de todos os meus amores,

foi o mais patético e trágico,

foi quase eterno e mágico,

e continua torto

e incandescente nos dias

frios e nas horas indecentes

que me dividem em duas

nuas metades.

O melhor de todos os meus amores,

foi o mais covarde,

o mais triste e invencível.

Foi aquele que me deixou invisível

até para mim mesma quando

me convidou para morrer.

O melhor de todos

os meus amores

ainda é

o que se esqueceu

ser.

Karla Bardanza