Pinot Noir
Lílian Maial
 


Desses meus dedos curtos
nascem raízes de alcançar impossíveis.
Viagens de vento, felicidade de chuva
e um gole de pinot noir.
Os versos de vinho têm mais verdade,
como os olhos que me contam o que já sei.
Esse papel já não me veste.
As noites me visitam e me ensurdecem de melodias.
A mão pequena penetra nas vísceras, pulsa e aperta.
Pode ser amanhã.
A casa me esconde dos versos que não entendo.
Todo esse sangue, que se derrama pela boca, coagula manhãs.
Nada passa de hoje.
Essa premência de pulsar e contar e beber.
Hemorragia de querer.
Tenho um colo de acalentar multidões, sempre vazio.
Tarefa de suturar desalentos.
O espelho me revela retalhos de tantas cicatrizes,
que não há mais definições nos ecos.
Ao longe, um canto de passado.
Um vento no rosto avisa a tempestade.
Eu nunca acredito no tempo,
até que foi.


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