Dois Balões Azuis (Valentina)

Pouco a pouco, passo torto a vagar,

meu corpo eleito celeste encontra o pouso no ar.

Paira o riso, o aplauso desce ao chão,

sem medo, sobe o alívio, ave de pés e mãos.

E dos olhos da plateia a assistir

surgem crianças serenas - seu brilho chega aqui:

a acolhida que me envolve os braços nus.

Nos ombros, o afago invisível

de dois balões azuis.

Algo errante em mim segue sem saber,

nada me arranha o instante, o peso se faz ascender

Mesmo o tempo se encanta e cede ao voo

pausa perante o eterno, segue por onde eu vou.

Lentamente, os acenos ao final

Mergulham como um remo em marés na vertical

sobre as vestes, sobre o vento, sob a luz.

Nos ombros, o afago invisível

de dois balões azuis.

Gravidade é dança que não espera, não

se desvela, então, dos casulos dos olhos meus

Respira e se atrasa sem pedir perdão

pois temer é viver suspenso

e morrer é sonhar de fora pra dentro.

Pouco a pouco, passo torto a vagar,

meu corpo eleito celeste encontra o pouso no ar

sobre as vestes, sobre o vento, sob a luz.

Nos ombros, o afago invisível

de dois balões azuis.

RF

05/03/2015

circa 23h30