ANDAR ANDEI

caminhos mil

nos desencontros de mim

nas andanças sem rumos

nas noites perdidas

nos becos sem saídas

nos prostíbulos da vida

das noites doidivanas

ébrias e sem dono

andar andei

anônima

vegetando o nada que era

apenas passos pedidos pelas madrugadas

frias e solitárias de ruas abandonadas

onde só os ambulantes do tempo de nada ser

viajavam perdidamente em busca de um agasalho

de um aconchego

de um corpo perdido para acolher

a migalha que sobrava de teu corpo lascivo

para sentir em um momento um ser

que se denominasse humano.

Caminhar caminhei

caminhos outros que não me levaram a nada

a não ser no caos de mim

onde desfragmentei

perdendo minha sanidade

cantando como louca

pelas ruas e avenidas

buscando bocas e corpos que unissem ao meu

para sentir o calor e o aconchego

caminhar caminhei

caminho que não era meu e de ninguém

apenas um ser sem dono

perdido na noite fria

das ruas sem destino

solitárias e tristes

das madrugadas sem fim

sem um sol a acalentar a alma

sem um amanhecer

apenas a noite a viver

dentro de tua negritude

de uma solidão tão dolorida

que sangrava pés

nas ruas tortuosas

do anonimato de mim

em busca do que um dia fui.

Caminhar caminhei

todas as paragens

todas as beiras mares

e naveguei esse mundo sem fim

barco sempre a deriva

até que um dia me encontrei

e como iceberg

dissolvi ao sol que reluziu

no infinito e profundo mar da vida

caminhar caminhei

e um dia me encontrei

do caos me fiz

das cinzas renasci

e hoje sou apenas um peregrino

a caminhar todos os caminhos da vida

mas dentro de mim

do mundo

do amor

e da paz

e de ti em eterna busca do meu amor

zelisa Camargo

21.06.04.

02.58

ZEL
Enviado por ZEL em 05/12/2004
Código do texto: T522