Alma Antiga

Somos almas antigas.

Estradas que os olhos escreveram corpo adentro.

Episódios que digerimos para o mundo.

Depoimentos de quem não somos.

Não conhecemos a exaustão, apesar da curva dos verbos.

Os lugares que deixamos esmaecem com calma.

Temos o alívio de não sermos donos de nada.

A idade das retinas viu passar

o tempo das coisas que envelhecem.

Cada dia nos ensinou

a remover das coisas a pele dos dias,

a querer a nudez despetalada das coisas.

O abraço que descostura,

o passo que entalha,

a areia que grava.

Aprendi a escrever seu nome na memória das pipas.

Quando sonhei ser eterno feixe paralelo,

deixei afundar o peso da linha reta

(nunca me faltou gratidão no escuro).

Mas vieram as maravilhas tecidas a fio de voz.

No desvio, desejei seus corredores.

Tempos cruzados, silêncio sereno e longevo.

Retratos pulsam e contraem distâncias.

Cores ancestrais acolhem a sépia

do idioma das nossas horas.

Nossas almas antigas

vivem de saber

que todas as coisas

são primeiras.

RF

12/06/2015

19h24