Esquecimento insano velho cimento
com todas as linhas reuniu as palavras
rimou destino com o fruto do desatino
numa manhã distante de junho
deixou o tempo apagar as pegadas
enquanto a lua cheia brilhava fria
pecou com Deus e o diabo
no espaço finito de um beijo proibido
no momento mágico da paixão desmedida
círculo fechado de pão e circo
tão linda quanto o bug do milênio
rasgou a blusa pura num desejo humano
consertou o relógio de pulso suíço e guardou
numa gaveta abarrotada de cacarecos e lágrimas
perdeu a foto na confusão da mudança
farol fechado na avenida Ipiranga
olhou as botas da moça na esquina
devolveu o livro do George Orwell na estante
de tão profundo gesto escreveu um pérola
ao ouvir a música do Ennio Morricone
fechou o caixão no peito e escondeu
o sorriso junto com os chinelos debaixo da cama
os pontos na mão escavam túmulos romanos
escamas prateadas de um peixe ébrio
corsário de panos abertos levando tesouros para o mar
voou sem asas anjo caído em Berlim
mas tudo se desfez em drama e cinema
histórias de bar e de bêbado
chaves no bolso e algum trocado