Esquecimento insano velho cimento

com todas as linhas reuniu as palavras

rimou destino com o fruto do desatino

numa manhã distante de junho

deixou o tempo apagar as pegadas

enquanto a lua cheia brilhava fria

pecou com Deus e o diabo

no espaço finito de um beijo proibido

no momento mágico da paixão desmedida

círculo fechado de pão e circo

tão linda quanto o bug do milênio

rasgou a blusa pura num desejo humano

consertou o relógio de pulso suíço e guardou

numa gaveta abarrotada de cacarecos e lágrimas

perdeu a foto na confusão da mudança

farol fechado na avenida Ipiranga

olhou as botas da moça na esquina

devolveu o livro do George Orwell na estante

de tão profundo gesto escreveu um pérola

ao ouvir a música do Ennio Morricone

fechou o caixão no peito e escondeu

o sorriso junto com os chinelos debaixo da cama

os pontos na mão escavam túmulos romanos

escamas prateadas de um peixe ébrio

corsário de panos abertos levando tesouros para o mar

voou sem asas anjo caído em Berlim

mas tudo se desfez em drama e cinema

histórias de bar e de bêbado

chaves no bolso e algum trocado

carlos assis
Enviado por carlos assis em 26/06/2015
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