A natureza e meu sonho...

As nuvens entrelaçadas, misturadas,

trocando seus lugares, itinerantes, sem rumo certo,

suspensas, nômades sem destino,

formavam estranhas figuras

estudando viagens e retornos

entre chuvas que as podiam destruir.

Seguiam sua jornada, pareciam conversar,

umas alvas, outras cinzentas,

mas todas colhendo brisas, sem medo de temporais.

O céu, pintado entre as nuvens, vinha desde o horizonte

sem perder-se das auroras, sem fugir de outro ocaso,

misturava suas cores surrupiadas de arco-íris,

refletindo-se em quaisquer águas,

emoldurando bailados de pássaros a revoar.

O sol, na sua excelência, ficava de esconde-esconde,

vencendo todas as sombras e, esparramando beleza,

brindava o dia com luz, divertia-se no azul,

brincava a despertar cada cantinho do ar.

O vento, sem se anunciar, entrou nesta harmonia,

carregou os raios do sol e, sem cerimônia,

arrancou as folhas verdes, assustadas,

que aos poucos se perdiam em meio ao seu rugir.

O casal de canarinhos, que cantava no seu ninho,

que cuidava seus ovinhos

de novas vidas para seu cantar,

foi jogado bruscamente sem mais calor, sem mais lar...

Rodopiavam esperanças, perdiam-se ilusões.

Relâmpagos intermitentes, jorravam medos ao chão.

Os trovões arrastavam luzes que perdiam-se na imensidão.

Imergiam saudades rolando por entre águas

que desciam sobre mim.

No espetáculo ensandecido pelas revoltas do mundo,

entre os artistas reais da natureza,

no meu palco de lágrimas e de tristezas,

estática, ensurdecida, no pavor de tantas lutas,

na minha fuga de derrotas, no temporal de minh’alma,

esqueci-me de sonhar...

Ida Satte Alam Senna
Enviado por Ida Satte Alam Senna em 17/06/2007
Código do texto: T530165