O poder , a arte e a mulher pelada
o jornal sangra
cobrindo o corpo de um motoqueiro
estirado no asfalto
da avenida Inajar de Souza
o jornal embrulha
a carne no açougue
nos meus tempos de menino
de ler os quadrinhos
eu não tenho nada a ver com isto
já se foram os tempos de gloria
não temos mais Samuel Wainer nem Chatô
o Pasquim e o Jornal da Tarde se foram
o jornal estampa versos de Camões
e receita de bolo na primeira folha
porque o tempo passa
e as pessoas esquecem as manchetes
o jornal pregado na banca
com a modelo nua
amarela rasgado pelo vento
os classificados mofam
o jornal faz de tudo para não morrer
mente,inventa,pede desculpas
crítica o governo
abraça interesses políticos
as rotativas vão parar
o cheiro da tinta e do papel desaparecerá
e os bares das esquinas
vão se encher de bêbados