O poder , a arte e a mulher pelada

o jornal sangra

cobrindo o corpo de um motoqueiro

estirado no asfalto

da avenida Inajar de Souza

o jornal embrulha

a carne no açougue

nos meus tempos de menino

de ler os quadrinhos

eu não tenho nada a ver com isto

já se foram os tempos de gloria

não temos mais Samuel Wainer nem Chatô

o Pasquim e o Jornal da Tarde se foram

o jornal estampa versos de Camões

e receita de bolo na primeira folha

porque o tempo passa

e as pessoas esquecem as manchetes

o jornal pregado na banca

com a modelo nua

amarela rasgado pelo vento

os classificados mofam

o jornal faz de tudo para não morrer

mente,inventa,pede desculpas

crítica o governo

abraça interesses políticos

as rotativas vão parar

o cheiro da tinta e do papel desaparecerá

e os bares das esquinas

vão se encher de bêbados

carlos assis
Enviado por carlos assis em 12/07/2015
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