De que sonhos somos feitos?

Sonhos imprecisos de papel dobrável,

barquinhos indecisos na água indomável,

sonhos desenhados, desembarques da ilusão,

formas sem contornos e sem definição.

Sonho gaivota, prisioneira sem poder voar,

que canta e conta por céus desacordados,

de nuvens sem azuis em sons desordenados

pelas areias imóveis e sem ouvir o mar.

Sonhos, argamassas sem tom de realidade

fuga de nós mesmos, luzes apagadas,

campos voláteis do infinito, cavalgadas,

sobressaltos à procura da verdade,

que o sono, em suas ousadas histerias

vai delineando pelo entardecer dos dias.

Somos feitos de sonhos: vontade de roubar

nosso próprio sonho e sem poder sonhar.

Viajantes feitos rabiscos e caricaturas,

rodando por asfaltos negros, sem venturas

estradas dispersas que jamais se cruzam,

desejos volúveis que não se concretizam.

Nos recantos das ruas a se esconderem,

sonhos, rosas descoloridas e despetaladas,

por exauridos perfumes já evaporados

em pálidos odores do mundo a se perderem.

Sonhos abraços que apertam e sufocam espaços,

por desencontros, desfazendo nossos laços,

a estrela da ilusão que piscou, brincou,

fugiu no horizonte descontrolado e distante.

Sabores verdes de outros campos ondulantes

no doce sabor que o teu beijo me deixou,

a água murmurante entre pedras se escondeu

e a música macia da tua voz emudeceu.

Minha poesia é saudade e são lembranças,

riscos em molduras de escassas esperanças.

Em alguma esquina perdida pela vida,

e num último entardecer que a encobria,

escorreram sem rimas infindas alegrias,

sonhos, pesadelos de emoções adormecidas.

A viagem distante do sorriso que me olhou,

espreitou a luz de meus poemas e se apagou.

Ida Satte Alam Senna
Enviado por Ida Satte Alam Senna em 18/06/2007
Código do texto: T532147